






Temas e Artigos » Assertividade
“Queria dizer-te as palavras mais ricas que guardo para ti, mas não me atrevo porque não vais pagar-me com as tuas melhores palavras. Por isso, digo o teu nome com clareza e faço alarde com um atrevimento cruel. Sim, maltrato-te com medo que não compreendas a minha dor....” Rabinranath Tagore
Actualmente, as relações interpessoais são mais valorizadas e as atenções estão voltadas não apenas para as competências técnicas mas também para as comportamentais. Neste contexto, surge o conceito de assertividade que pode ser definida como a habilidade para nos posicionarmos frente a pessoas e a situações, expressando as nossas opiniões ou sentimentos sem constrangimento e sem causar constrangimento aos outros, levando em consideração não apenas os nossos próprios direitos e ponto de vista mas também os dos outros. Podemos então dizer que ser assertivo é ter a capacidade de auto-afirmar os próprios direitos sem se deixar manipular e sem manipular os demais. A assertividade encontra-se também estreitamente ligada à auto-estima, ao respeito por nós próprios e pelos outros. A formação da auto-estima vai-se dando ao longo do nosso desenvolvimento e nela intervêm três processos: a avaliação reflectida (repercussão que tem sobre nós a avaliação que os outros fazem a nosso respeito), a comparação social (quando nos comparamos com os nossos pares sociais) e a auto-atribuição (tendência que temos para tirar conclusões a nosso respeito, na observação das nossas próprias acções, em função do êxito ou fracasso dos nossos esforços). Deste modo, a auto-estima apresenta um contínuo cujos extremos levam a pessoa a fazer uma avaliação muito negativa ou muito positiva de si própria, mas no qual existem vários níveis intermédios. As pessoas assertivas possuem uma auto-estima elevada, autoconfiança, segurança pessoal, forte senso de responsabilidade pessoal, iniciativa e sinceridade Contrariamente, as pessoas que apresentam uma auto-estima pobre tem dificuldade em lidar com as circunstâncias do dia a dia, reagem mal a críticas, ficam perturbadas quando a rejeitam, adoptam uma atitude passiva perante a vida, sentindo-se inferiores quando se comparam com os outros. Têm igualmente tendência a atribuir o sucesso a factores externos, como a sorte ou o acaso, e o fracasso a factores internos, como as aptidões sociais. Vários estudos têm demonstrado que uma auto-estima pobre encontra-se ainda correlacionada com o desenvolvimento de diversas perturbações psicopatológicas. No nosso dia a dia estamos constantemente a interagir com outras pessoas e por vezes sentimo-nos bem, ficamos satisfeitos, outras nem por isso. Há situações que, sem razão aparente, nos fazem sentir mal, assim como há pessoas com as quais nos sentimos mais inseguros. Que efeito estas situações ou pessoas produzem em nós? Por vezes sentimo-nos mal, frustados, ignorados, entediados ou subvalorizados. Atribuimos a culpa aos outros, ao momento, à situação, mas, no fundo, sentimos que não somos tratados como gostaríamos, ou que não somos capazes de nos mostrarmos tal como somos. Não respeitamos as nossas próprias necessidades e, por conseguinte, também não nos sentimos respeitados pelos outros. Todos nós já nos deparamos de repente com alguma situação que nos “atropelou” e à qual reagimos angustiados e com dificuldade em enfrentá-la. Então, o que é que faz com que alguns se sintam bem na interacção social e outros se sintam mal, que uns inspirem mais respeito e outros nem por isso? Para a interacção ser positiva e gratificante depende de nos sentirmos valorizados e respeitados, o que por sua vez, não depende tanto dos outros mas de nós mesmo, de possuirmos aptidões para responder correctamente aos desafios e uma série de crenças ou esquemas mentais que façam com que nos sintamos bem connosco próprios. A assertividade manifesta-se através do contacto visual suficiente para reflectir que a pessoa está a ser sincera, do tom de voz moderado e neutro, da postura comedida, segura e da expressão corporal congruente com as suas palavras. As pessoas assertivas estabelecem relacionamentos mais francos, mais abertos, geram maior confiança e credibilidade, evitam conflitos desnecessários e não ficam insatisfeitas consigo próprias por não expressarem as suas opiniões e sentimentos. Em função disto lidam com os confrontos com mais facilidade e satisfação, sentem-se menos “stressadas”, melhoram a sua imagem, a credibilidade e expressam o seu desacordo de modo convincente mas sem prejudicar o relacionamento. As pessoas assertivas resistem às tentativas de manipulação, às ameaças, à chantagem emocional e à bajulação. Sentem-se melhor e fazem com que os outros também se sintam melhor, tornando o relacionamento mais harmonioso. Por outro lado, as pessoas não assertivas (ou pouco assertivas) apresentam, de um modo geral, algum problema no seu modo de se relacionar com os outros. A falta de assertividade pode apresentar-se sob duas formas que se situam em pólos opostos: de um lado as pessoas passivas, consideradas tímidas, retraídas, com tendência a deixarem-se “pisar” e por isso, a não serem respeitadas. Do outro lado encontram-se as pessoas agressivas, que “pisam” os outros, tendo em conta apenas a satisfação das suas próprias necessidades. Há vários problemas relacionados com a falta de assertividade e que se ocultam muitas vezes por detrás de queixas de ansiedade, timidez, angústia, culpabilidade e sintomas depressivos, frequentes na avaliação clínica. Pretende-se então que a assertividade seja um caminho para uma auto-estima mais saudável, para a capacidade de nos relacionarmos com os outros de igual para igual, sem nos colocarmos a um nível superior nem inferior. Só possuindo uma boa auto-estima, apreciando-nos e valorizando-nos, reconhecendo os que são melhores em determinadas competências mas também o nosso valor e mérito quando o merecemos é que poderemos nos relacionar com os outros no mesmo plano. Finalmente, é importante lembrar que tudo o que diz respeito a comportamentos assertivos e competências sociais é susceptível de ser melhorado e quando necessário, a ajuda de um psicólogo pode ser uma mais valia na implementação de técnicas e estratégias para desenvolver a assertividade. Atrevemo-nos então a melhorar a qualidade das nossas relações! |