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Quando a Tristeza Parece Não Ter Fim ...

Ao longo da vida todos nós nos deparamos, em maior ou menor grau, com situações que nos abalam, períodos de conflito, acontecimentos negativos, sentimento de tristeza, etc. No entanto, nem todas as manifestações de tristeza se identificam com a perturbação depressiva. Em casos de luto, por exemplo, o sentimento de tristeza é normal e até necessário para superar esses momentos negativos e difíceis da vida. Mas, quando os sintomas são mais graves e duradouros no tempo e a tristeza parece não ter fim, incapacitando e interferindo no quotidiano, então tudo indica que poderemos estar perante uma depressão. Um paciente deprimido, mais do que uma pessoa triste, é uma pessoa doente. Segundo dados estatísticos recentes, a Depressão é a psicopatologia  mais frequente em Portugal (de 16% a 18% da população) e em conjunto com a ansiedade e o stress constitui um dos maiores problemas psicológicos do  mundo moderno.

O que é a Depressão? Qual a sua origem?

A depressão é uma perturbação que envolve o corpo e a mente da pessoa, podendo afectar e alterar o padrão de actividade e pensamento. Pode ocorrer um ou mais episódios depressivos com grau variável (leve, moderado e grave), manifestando-se sob variadas formas. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a perturbação depressiva insere-se nas perturbações do humor e encontra-se classificada basicamente em 2 tipos: Depressão Maior e Distimia. Estar deprimido não é o mesmo que estar triste uma vez que a pessoa apenas por si não se consegue recuperar. Os sintomas característicos da Depressão são variáveis de pessoa para pessoa em duração, frequência e intensidade e incluem aspectos afectivos (humor triste, melancólico, desânimo, vazio, diminuição de interesse ou prazer nas actividades do dia a dia), cognitivos (pensamentos de auto-desvalorização, baixa auto-estima, rejeição, culpa excessiva ou inapropriada, dificuldades de concentração, pensamentos acerca da morte ou ideação suicida – nos casos graves e que requerem tratamento imediato), comportamentais (apatia, isolamento social, agitação ou lentificação psicomotora) e físicos (alterações do sono, aumento ou diminuição do apetite, perda de desejo sexual, fadiga ou diminuição de energia). A Distimia á caracterizada por sintomas crónicos, de longa data (2 ou mais anos) em que a pessoa vai funcionando num registo de “ humor deprimido” na maioria dos dias. Depois de muita polémica sobre as causas da Depressão, esse mal que assola impiedosamente uma grande parte da população, parece que a maioria dos investigadores e das mais diversas tendências ideológicas e científicas, finalmente chegaram a um consenso, a Depressão apresenta uma origem bio-psico-social. A combinação de factores genéticos,  psicológicos e ambientais aparecem frequentemente envolvidos na Depressão. A Depressão Maior ocorre de geração após geração, em algumas famílias. No entanto, também pode ocorrer em pessoas sem antecedentes depressivos na família. Frequentemente, é também associada a um desequilíbrio neuroquímico. Os factores psicológicos apresentam um papel de vulnerabilidade face à perturbação depressiva. Pessoas que apresentam baixa auto-estima, que permanentemente se vêm a si próprias e ao mundo duma forma negativa ou que vivem constantemente sob stress, apresentam maior vulnerabilidade quando se associam determinados factores de risco, preditores do desenvolvimento da Depressão.

Factores de Risco

A maioria das pesquisas identifica determinadas circunstâncias que constituem factores de risco e que poderiam predispor ao desenvolvimento da perturbação depressiva:

a) Vida Urbana  (competitiva e exigente )
b) Desemprego / Dificuldades Económicas
c) Doença Física (doenças crónicas, incapacidade)
d) Alteração Afectiva Prévia / Outras Perturbações Emocionais
e) Acontecimentos Stressantes / Luto e Perdas Significativas
f) História Familiar de Depressão
g)Personalidade prévia
h) Alguns medicamentos
i) Abuso de Substâncias (drogas e álcool)

A morte de um ente querido ou o término de uma relação provocam tristeza que às vezes se pode transformar em Depressão em pessoas que apresentam maior vulnerabilidade depressiva. Problemas económicos, laborais ou outros problemas pessoais podem também desencadear Depressão ou são tidos como factores de risco, na medida em que favorecem o stress e consequentemente, o esgotamento. Toda a fisiologia e a patologia do stress é inseparável da emoção, da angustia e da Depressão, sobretudo enquanto representam  esforços adaptativos do organismo para confrontar uma situação de alarme. Nesses casos, a Depressão apareceria como consequência de um estado de esgotamento, onde estariam esgotadas as capacidades adaptativas por excesso de stress. A Depressão pode apresentar variadas manifestações de acordo com cada tipo de personalidade, no entanto, a psicopatologia recomenda como válida a existência de 3 sintomas depressivos básicos, os quais darão origem a várias manifestações desta perturbação do humor. Essa tríade sintomática é constituída por:

1 - Sofrimento Moral
2 - Inibição Global
3 - Estreitamento do Campo Vivencial

1 - Sofrimento Moral
O sofrimento moral ou sentimento de menos-valia é um fenómeno marcante e desagradável na trajectória depressiva. Trata-se de um sentimento de auto-depreciação, auto-acusação, inferioridade, incompetência, culpa, rejeição, fraqueza, fragilidade e mais um sem número de adjectivos pejorativos. Dependendo do grau da depressão, o sofrimento moral aparece em graus variados, desde uma subtil sensação de inferioridade até profundos sentimentos depreciativos.

2 – Inibição Global
Inibição ou lentificação dos processos físicos e psíquicos na sua globalidade, uma lentidão generalizada de toda a actividade corpórea. Em graus variáveis, esta inibição geral torna o indivíduo apático, desinteressado, lento, desmotivado, com dificuldade de suportar tarefas elementares do quotidiano e com grande perda na capacidade em tomar iniciativas. Os campos da consciência e da motivação estão seriamente comprometidos, advindo daí a dificuldade em manter um bom nível de memória, de rendimento intelectual, da actividade sexual e até da actividade necessária para enfrentar o dia-a-dia.

3 - Estreitamento do Campo Vivencial / Perda de Prazer
Estreitamento vivencial é a expressão mais adequada para representar a perda progressiva da pessoa deprimida em sentir prazer. O ponto mais alto desse fenómeno de perda do prazer é denominado de Anedonia, ou seja, a incapacidade em sentir prazer por todas as coisas. No Estreitamento Vivencial o universo de interesses e de prazeres pelas coisas da vida vai sendo cada vez menor e mais restrito. De facto, o interesse humano está indissoluvelmente ligado ao prazer. Interessamo-nos por aquilo quer nos dá prazer, por aquilo com o qual temos alguma ligação afectiva. Em situações normais a pessoa abre para si um leque de interesses: pelas notícias, pelo desporto, pela política, pela companhia de amigos e pessoas queridas, pelo conhecimento em geral, teatro, cinema, arte, cultura, passeios, novidades, compras, revistas e jornais, enfim, cada pessoa apresenta um rol de interesses pessoais, evidentemente, interesses por coisas que lhe dão prazer. No Estreitamento Vivencial da Depressão esse leque de interesses vai se fechando e vai aparecendo progressivamente um desinteresse e desencanto pelas coisas e actividades que antes eram fonte de prazer. Deixa então de haver ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para a realização ocupacional, para apreciar um filme interessante ou uma boa companhia, para ir às compras ou visitar um amigo. Nada mais é fonte de prazer, nada parece motivar a pessoa. Neste caso, o leque do campo vivencial fica tão estreito que só cabe nele o próprio paciente com a sua Depressão, o restante de tudo que a vida pode oferecer parece deixar de ter interesse, a própria vida parece não interessar mais.

Compete à sensibilidade do clínico observar, relacionar uma queixa, um comportamento, um pensamento ou sentimento, como a expressão individual de um desses três sintomas básicos, como sendo a expressão pessoal e adequada da personalidade de cada um diante da Depressão. A Depressão, nas suas diversas formas, deve ser tratada por profissionais especializados, em que a relação entre terapeuta e paciente é de vital importância, não havendo nunca lugar a qualquer tipo de julgamento ou rótulo (por ex: “alguém que não sabe enfrentar a vida”). A psicoterapia tem-se revelado bastante eficaz na diminuição dos sintomas e na recuperação da doença. Nas depressões moderadas a graves muitas vezes surge a necessidade de conciliar a psicoterapia com a farmacoterapia (anti-depressivos). Tendo a Depressão uma origem bio-psico-social, torna-se então imprescendível uma abordagem multifactorial, tendo como objectivo ajudar o paciente a superar a sua doença, a voltar a disfrutar o que há de bom na vida com alegria e entusiasmo, a ter pensamentos positivos, sentimentos de estima, pertença e amor, como pessoa única e especial que é.