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Perturbação de Stress Pós Traumático  (PTSD - Pos Traumatic Stress Disorder)

A perturbação de Stress Pós-Traumático é uma patologia que pode surgir em pelo menos 25% das pessoas envolvidas em acontecimentos traumáticos. Distingue-se do stress traumático, aquele que surge durante e logo após a exposição a qualquer evento traumático, porque os seus sintomas persistem por mais de 3 meses após o evento, sendo possível também que os sintomas só venham a aparecer muito tempo depois. Os principais eventos traumáticos são aqueles que trazem sentimentos de ameaça à vida, integridade física ou moral, rompendo o sentimento de protecção e previsibilidade: assalto; violência (urbana ou doméstica); guerra; agressão; ser humilhado; sequestro; acidente; abuso físico verbal e/ou sexual; catástrofes naturais, tais como: enchentes, furacões, terramotos; estupro, perdas inesperadas, diagnóstico de doença grave, procedimento médico invasor, (cirurgia, alguns tipos de exames,) ser preso, etc.

Quais são os sintomas mais frequentes?

Os sintomas de PTSD estão associados à intensa experiência de medo, impotência ou horror experimentado numa ou mais das situações acima citadas, onde a pessoa vivenciou ou testemunhou tal evento a ocorrer a outras pessoas. São eles: lembranças repetitivas, constantes e que surgem espontaneamente interferindo no curso normal da vida, pesadelos, hiperexcitabilidade; hipervigilância, (a pessoa sente-se sempre ansiosa, como se estivesse em perigo, pronta para lutar ou fugir); esquiva, (a pessoa passa a evitar lugares, pessoas e situações que possam lembrar o trauma). Por exemplo, uma mulher que sofreu abuso sexual, ou estupro, passa a evitar envolvimentos amorosos ou encontros sexuais. Filhos que foram mal tratados pelos seus pais, evitam visitá-los quando crescem e saem de casa,  etc.) Negação, (recusa a reconhecer o evento traumático como tal, ou pactos de silêncio); Perda da capacidade de se relacionar afectiva e amorosamente; Desinteresse geral pela vida; Perda da perspectiva de futuro, (amoroso, profissional, etc.); Irritabilidade; Raiva excessiva; Dificuldade de concentração e memória; Depressão ansiosa.
Há também a possibilidade de que o trauma tenha deixado a pessoa num estado dissociado do qual ela não consiga sair. Os sintomas que podem surgir são: amnésia, incapacidade de recordar factos significativos do passado ou períodos da vida, confusão de identidade, (a pessoa sente-se confusa quanto a quem ela é podendo até adoptar uma outra identidade); sentir-se desligado de si mesmo, como se estivesse a observar-se de fora. Profundas divisões na personalidade são encontradas em pessoas traumatizadas.

Os Traumas de infância são mais importantes?

Devido ao modo como as psicoterapias foram se tornando mais populares, passou-se a acreditar que a maioria dos problemas das pessoas decorre de traumas de infância esquecidos. No entanto, esta é apenas uma das formas de entendermos a angústia decorrente dos traumas não resolvidos, pois uma pessoa pode ter a sua vida bastante afectada caso tenha experimentado um ou vários choques traumáticos na sua vida, mesmo depois de adulta. Isto acontece com pessoas que sofreram traumas de guerra, assalto, sequestro, ou ameaça de morte e que tiveram as suas vidas prejudicadas a partir de então.
No entanto, os traumas sofridos na infância que não foram solucionados de forma adequada, podem deixar profundas marcas na personalidade, fazendo com que a pessoa prolongue um estado de sofrimento, frustrações e problemas que a fazem pensar que a vida é assim mesmo. A sua vida passa a ser orientada por crenças que, actuando inconscientemente, impedem ou dificultam a realização amorosa, profissional e pessoal. Ex: "Não mereço ser feliz", "Não sou capaz ou competente", "Viver é sofrer", "Não tenho o direito de realizar os meus desejos", etc. são algumas das crenças que podem estar a orientr a existência de alguém que passou por traumas na infância que não se resolveram de forma adequada. Algumas destas marcas causam verdadeiras divisões no eu, que se encontram na base de muitos sofrimentos. O contrário também ocorre, ou seja: devido a factos traumáticos que fizeram o indivíduo sentir-se inferiorizado, é possível a pessoa adoptar uma postura narcisista de superioridade, numa tentativa precária de sair da angústia.

Por que existe o trauma?

O trauma acontece porque todos os seres vivos possuem vulnerabilidades e requerem protecção frente às ameaças. Desde o nascimento, somos afectados por, pelo menos, dois medos básicos. O medo de perder e o de sermos destruídos. O medo da perda refere-se às nossas fontes de segurança que vão desde os pais, na infância, até às nossas relações significativas que estabelecemos na vida adulta, tais como: emprego, a família, amigos, etc. Já o medo de sermos destruídos refere-se aos perigos que podem atingir a integridade física, a auto imagem (ego). O corpo humano é dotado de mecanismos naturais que nos levam a lutar, fugir ou congelar diante de acontecimentos que sugerem uma destas duas possibilidades. São respostas adaptativas que trazemos da nossa herança biológica, que garantem a sobrevivência da espécie. O factor surpresa é preponderante no desenvolvimento destas reacções, forçando-nos a dar uma ou mais das respostas anteriores. Quando somos bem sucedidos, ou seja, superamos a ameaça, o corpo volta ao seu funcionamento normal, após algum período de adaptação. Nestes períodos ocorrem reações físico-químicas de descarga e acomodação do nosso equilíbrio hormonal e neurológico, quando então recuperamos o nosso senso de auto protecção e de previsibilidade, preservando assim a auto confiança. No entanto, muitos indivíduos não conseguem recuperar-se totalmente, ficando presos à situação não resolvida como bem mostram os sintomas acima descritos.

Por que algumas pessoas passam por acontecimentos traumáticos sem apresentar a Perturbação de Stress Pós-Traumático?

Não existe uma causa única para que esta patologia não se instale. Há vários factores que são levados em consideração, para se avaliar porque algumas pessoas apresentam maior sensibilidade a eventos traumáticos do que outras. O que parece ser o principal factor favorável é que se tenha um histórico de respostas bem sucedidas, preferencialmente, desde a infância. Por exemplo, ter em si, consciente e/ou inconscientemente a ideia e a sensação de que foi uma criança protegida, pelos pais ou outros e que foi capaz de aprender a se cuidar e se proteger, ter sido capaz de resolver, de forma bem sucedida outras situações stressantes... Preservar no seu dia a dia hábitos saudáveis que lhe fazem sentir-se bem a maior parte do tempo,  ter vínculos significativos de amizade, amor e trabalho, ter habilidades sociais, ter preservado o contacto consigo mesmo, ser capaz de compartilhar sentimentos, tais como: alegria, tristeza, prazer, etc. No entanto, se a pessoa já é vítima de uma história traumática, ou se está a viver sob pressão profissional, por doença, em si ou na família, ou tem características de personalidade que favorecem uma baixa auto-estima, pode ser mais fácil desenvolver PTSD. Outro factor importante é a gravidade da ameaça. Estes são factores ambientais e de formação da personalidade. Os factores genéticos ainda estão em estudo, sem que a ciência tenha encontrado qualquer explicação significativa.

Os traumas podem estar associados a outras doenças?

Há evidências de que não somente a PTSD pode surgir de uma ou mais experiências traumáticas. Vários transtornos de ansiedade, como o pânico e fobias podem estar associados a memórias traumáticas encobertas, ou não. Também os casos de transtornos dissociativos, doenças psicossomáticas e alguns tipos de depressão.

A cura do trauma depende mais do corpo do que da mente?

Diante de uma ameaça à vida o nosso corpo activa-se tão fortemente que são necessários recursos tanto biológicos quanto psíquicos para se lidar com a tensão causada pela ameaça. Por muitas razões é possível que ocorra uma falha nos mecanismos naturais de resolução, impedindo que o organismo volte ao seu estado de equilíbrio, que lhe permite funcionar normalmente. Daí surgem os sintomas e sua constância, acabando por se constituir num quadro  clínico definido. Toda a activação biológica que não é resolvida tende a produzir sintomas, tanto físicos quanto psíquicos, até que encontre um meio apropriado de se desfazer. Portanto, é tão importante analisar os aspectos subjectivos deixados pela experiência traumática, uma vez que cada sujeito tem o seu modo próprio de interpretar o que vivencia, quanto examinar os aspectos fisiológicos responsáveis pelos principais sintomas do TEPT, tais como a hiperatcivação, as imagens intrusivas e o congelamento.

Qual o melhor tipo de tratamento? Medicamentos? Psicoterapia?

Até hoje a ciência ainda não definiu nenhuma forma de tratamento 100% eficaz em nenhum tipo de doença, física ou mental. No caso de PTSD, alguns medicamentos podem ajudar a lidar com o stress da situação, mas não são soluções definitivas, servindo apenas para reduzir a ansiedade e/ou a sintomatologia depressiva que possa surgir associada. Quanto às psicoterapias, estas lidam com os aspectos subjectivos resultantes das experiências traumáticas,  as emoções, tais como: medo de morrer, sentimentos de devastação e impotência; pensamentos, que se manifestam como crenças inibidoras e imagens através das quais se revive espontaneamente o trauma. Como só a partir de 1980 é que a PTSD foi reconhecida oficialmente pela Associação Americana de Psiquiatria, desde então é que têm sido desenvolvidas e testadas com sucesso novas abordagens psicoterapêuticas, em que as mais bem sucedidas são principalmente aquelas que activam os recursos naturais do corpo para se curar, além de lidar, simultaneamente, com os processos psicológicos e aspectos subjectivos. A partir da descoberta feita pela Dra. Francine Shapiro, da Psicoterapia com EMDR, é possível acelerar a resolução de memórias traumáticas, reduzindo drasticamente os seus efeitos, em pouco tempo, com eficácia duradoura e significativa nos casos de PTSD. O seu poder de cura está cientificamente comprovado por diversos trabalhos de investigação empírica e pela experiência de mais de 30.000 terapeutas treinados em diversos países. O EMDR é uma excelente ferramenta de trabalho que tanto pode ser empregado como psicoterapia breve como pode ser parte integrante de um processo mais longo, que vise a reconstrução da personalidade.